Wednesday, March 01, 2006

é a doce ilusão

Eu nunca fui fã de carnaval. Tanto que as minhas participações nas matinês se reduziam a ficar juntando um monte de confete do chão, para depois jogar para cima e repetir o ato até cansar. As fantasias de heróis e piratas então, puxa, muito mais divertido era usar elas em casa para brigar contra todos os vilões que me esperavam no parreiral do meu quintal. Quando adolescente eu fui aos bailes, porque neles havia o álcool e as garotas. Mas em outros lugares eles também existiam, então perdi a vontade de ficar rodando no salão.

Mas não existe coisa que me deixa mais vidrado na televisão do que o julgamento das escolas de samba.

Putz.

E eu nem assisto os desfiles, porque os acho chatíssimos. Mas para mim o julgamento é igual final de copa ou de campeonato do Brasil, com o Flamengo lá. Eu espero. Uma ansiedade vai me tomando nos dias anteriores só de lembrar. Daí a televisão dá que tal escola é a favorita e coisa e tal.

Mas isso não me importa.

Não mesmo. Não assisto para saber se a acadêmicos do grande rio vai para a segunda divisão do samba ou se a mangueira vai perder pontos por causa da alegoria tals.

Eu gosto é do clima.

Pode ter até uma explicação meio antropológica-social-do-diabo-a-quatro para isso. Já que a gente acompanha ao vivo aquele sofrimento das comunidades com cada nove-ponto-sete dado para a sua escola ou o dez que espalha alegria e apressa o samba nas quadras. Tem também o finalzinho da apuração, quando as escolas estão por muito pouco e esperando pelos pontos derradeiros para xingar o juiz (no caso, o jurado) ou sair dando beijo em todo mundo.

Outra coisa legal é ficar olhando a fotinha dos jurados, quando as notas dadas por eles vão aparecendo na tela. Sempre fico pensando, que essas pessoas são de muita coragem. Imagina dar uma nota para os unidos da tijuca, que representou a queda deles ou a perda do campeonato. E daí? Será que dá para passar pela Tijuca, para comprar um pãozinho na padoca? Até o Jorge Ben vai te dar um pedala.

E a narração?

Putz. Num tem nego melhor para criar um clima de tensão do que aquele cara, que nunca divulgam o seu nome. Vai ver é superstição. Vai que ele perde a voz.
E o cara também tem um timing perfeito. Daí junta o seu tipo barítono com a criação do momento exato para dizer: unidos de vila isabel...dééz. É impressionante como ele sabe aguardar os milésimos de segundo para dar a nota e deixar a galera se expressar de forma democrática. “filho da p..., caraio”

E o mais legal é que ele não um desses apresentadores de jornais que contam da morte da bezerra e as peripécias de Brasília mudando apenas a expressão com as sobrancelhas. Ele vai dando a nota das escolas, uma por uma, até chegar naquelas que estão quase para fazer a loteca.

Olha. Juro. Se um dia ele morrer ou for deposto do cargo, eu deixo de acompanhar as apurações.

Daí vem o momento mais intenso. Que vai definir o carnaval carioca. Que vai fazer neguinho se sentir igual pinto no lixo, como diz o Jamelão.

E desse ano, o nosso amigo acabou de dizer. A campeã é a Vila Isabel. Corta para a quadra da comunidade, onde a festa já começou. Para ficar mais bonito a galera só tá expectativa dos barris de chopp, que prometeram para todo mundo

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