Monday, September 17, 2007

Superagui blues

Quem acha que ir para praia é motivo de felicidade plena nunca foi para Superagui. Transformada artificialmente em ilha no início da década de 60 através da abertura de um canal, o local respira melancolia. Não que isso signifique tristeza ou depressão para os turistas que escolhem o lugar, mas, definitivamente, a ilha não combina com batuques solares de Jorge Ben ou outras músicas que são ouvidas ao longo do litoral brasileiro.

As cores da ilha são de semi-tons que não explodem em vida, mas em imagens plácidas. Vez ou outra, sua vegetação é contrastada pelo vermelho das bromélias e outras flores que persistem em pontuar o caminho das trilhas. E em razão de sua topografia plana, a praia de Superagui é sempre a mesma. São dezenas e dezenas de quilômetros de uma praia reta que a gente perde a vista no horizonte.

Mas não dá para pensar que tudo é monótono. Superagui é triste, mas não é chata e se revela nos detalhes. Sua areia fina é um convite para longas caminhadas e passeios de bicicleta. E por todo o caminho, a gente encontra milhares de conchas de diferentes formatos e pedaços de corais esculpidos pelo mar.

O que se encontra nas areias de Superagui também explicam um pouco de sua natureza melancólica. Em razão de sua localização, a maré leva até ela carcaças de animais como tartarugas, golfinhos, peixes e até mesmo pingüins. Todos mortos. Alguns locais do litoral brasileiro são chamados de berço da vida. Superagui é o cemitério.

Uma história contada pelos pescadores resume tudo isso muito bem: Há pouco mais de um mês, uma baleia Orca apareceu bem próxima da ilha, fazendo um festival de acrobacias que encheu os olhos de todos os moradores. No mesmo dia o corpo de uma pessoa bateu na mesma areia. Até em dias felizes, Superagui é triste.

O mar também leva para a praia a nossa sujeira. Os olhos são assaltados com imagens de uma infinidade de dejetos do homem. Pneus, garrafas, tênis, pedaços de barcos, restos de redes, latas, garrafas são levados para a ilha numa forma do mar mostrar que rejeita aquilo que produzimos. Somos lembrados que estamos destruindo tudo e não há onde esconder a nossa sujeira.

Os poucos mais de mil moradores ainda não foram picados pela “mosca azul” do turismo. Lá não existe a falsa simpatia do “cliente sempre tem a razão”. Lá ninguém vai te convidar para almoçar na sua casa depois de uma conversa de quinze minutos. Mesmo os donos de pousadas e restaurantes ainda se esforçam para demonstrar uma paixão avassaladora sobre quem acabou de chegar.

Ao mesmo tempo que os moradores são reservados, eles também se tornam amigos depois que te conhecem. Daí você pode ser convidado para um almoço, ganhar uns camarões ou se deliciar com as lendas e histórias contadas por eles. Algumas lendas bem tristes e muitas bem divertidas.

6 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Nunca tinha lido um diário de bordo tão sincero e observador como este!

10:02:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

esse seu post me deixou com vontade de conhecer Superagui. muita.

7:08:00 AM  
Blogger fernando araújo said...

Pô, Ka. Assim eu fico com vergonha...
Glórinha. Lá é muito legal. Além do que eu escrevi, ainda tem os fandangueiros que tocam (dãrd) fandango num boteco chamado Akdov (vodka ao contrário. hahaha), uns tiozinhos figura que ficam dançando com todas as meninas e pastéis de camarão e banana à milansa vendidos na praia por R$1. E é uma delícia. Superagui é bacanonna. Triste, mas bacana

7:33:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

Superagui é tudo isso que você falou, conheci a ilha a alguns anos atras e faço minha suas palavras.
Abs
Bruno

5:27:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

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6:15:00 PM  
Blogger Claude said...

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concordo com você..fiz essa caminhada com chuva, e em superagui experimentei o que é uma vertigem..pelo fato de não encontrar ninguem em 28 kimometros de praia

3:38:00 PM  

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